quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Raul Santos Seixas

Falar do Raul (Seixas é perder a intimidade) é ao mesmo tempo fácil, ao mesmo tempo difícil, fica aquela impressão de que nunca teria falado o suficiente. É a minha referência máxima. Gosto do Chico Buarque, da maioria da MPB, do rock nacional, sertanejos antigos, mas Raul... para mim é o cantor, o ator, o compositor... o escritor que talvez tenha me motivado a estar no nono ano de Letras para, com alguma pretensão, entendê-lo. E sei que tudo que eu escrever será pouco científico, "Coisas do coração". Adoro o Raul, não o Raul do "toca Raul", não o Maluco Beleza, o Ouro de Tolo, mas também, e não aquele que nasceu há dez mil anos atrás. Amo aquele que nasceu comigo, no disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!, décimo segundo solo, que insisti a minha mãe para comprar no Paes Mendonça. O Raul adorado pela minha prima Selma, pelo motorista Zé, aquele Raul meio rock, meio sertão. O Raul que usou a Globo, e não que a Globo usou, no melhor estilo de Arnaldo Jabor. Não o Raul que muitos adoram, fumando maconha e jogando ambas as mãos para a direita e esquerda e o tornam ridículo e odiável, como tantos fãs da USP de Chico Buarque e Che Guevara. Amo o Raul que poucos conhecem. O Raul de Baby, de Quando você crescer, de Paranóia II, das Minas do Rei Salomão, de Brincadeira, do Cachorro Urubu, de Novo Aeon, de Por quem os sinos dobram, de Planos de Papel, o Raul que gritou EU SOU EGOÍSTA!, que gritou QUANDO ACABAR O MALUCO SOU EU!, de Quero mais, Só pra variar, Nuit, o grande Carpinteiro do Universo. Se dessas dezesseis músicas você conhecer doze, você, mesmo sem querer, também ama o Raul: o compositor de 99, 39% das músicas que cantou, porque cantava o que acreditava.
Raul Santos Seixas era uma enciclopédia do Rock'n Roll, do melhor Rock'n Roll, Chuck Berry, Little Richard, Bill Halley, Jerry Lee Lewis... , Elvis Presley. Raul, como haverá um outro igual sem ser imitação de Raul? Impossível! Raul personagem de si mesmo, que nunca foi personagem, nunca foi mascarado, e como foi difícil ser Raul, com cavanhaque, óculos escuros, jaqueta de couro: "bota o seu blusão de couro, agora é que eu quero ver..." Sua espada, Raul, foi a guitarra na mão... e você foi o maior dos Samurais, cantando Loteria da Babilônia, Teddy boy, rock e brilhantina, Caroço de Manga. Você beirou a ser um ídolo, e só não foi porque essa palavra é apenas produto de uma intensa cegueira, mas quem te conhece, usa óculos escuros... Aos que te ignoram por uma voz pouco afinada ou te relegam ao álcool e às drogas, lembre-se que esses mesmos julgaram Dostoiévski por uma linguagem mal cuidada e por um nacionalismo exacerbado. Para mim, com a liberdade de ser fã, duas grandes mentes do mundo ocidental, não há uma frase que não me lembre Dostoiévski, não há uma canção de Raul que não me remeta a um segundo de minha vida.
Pensei quais seriam as cinco músicas de Raul de que mais gosto... seria mais fácil dizer a que mais odeio: Eu sou eu nicuri é o diabo, pois são poucas. Fazendo esse exercício, selecionei Eu sou egoísta, com uma belíssima interpretação da Pitty, que para ser perfeita só poderia ter esquecido o famigerado "Toca Raul", As minas do rei Salomão, Baby, Meu amigo Pedro e Loteria de Babilônia. Um bônus: Coisas do coração...

Um comentário:

  1. Perguntou-me se eu gostava de Raul... Após ter lido seu texto, digo que não.
    Parabéns! Foi o melhor texto sobre nosso Raul que eu já li.

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