quinta-feira, 7 de julho de 2011

Vidas Secas - Graciliano Ramos

Graciliano Ramos nasceu em 27 de outubro de 1892, no Estado de Alagoas, tendo uma infância difícil, juntamente com seus quinze irmãos. Foi prefeito de Palmeira dos Índios, onde parece ter começado sua carreira literária, dada a excelência com que escrevia seus relatórios. Acusado de participar do movimento comunista, foi preso, o que ensejou na publicação de Memórias do cárcere, o que remete ao livro Recordação da Casa dos Mortos, do escritor russo Dostoiévski, que trata das experiências de presos na Sibéria.
Vidas Secas, publicado em 1938, constitui, juntamente com São Bernardo e Angústia, a trilogia da obra-prima de Graciliano Ramos. O cenário de suas obras faz parte da vida do próprio autor, contudo, com uma enorme capacidade literária, que o faz um dos grandes escritores do mundo, Graciliano universalizou os ambientes, os temas e os personagens. Em Vidas Secas, a escrita contribui para o sentido do texto, unindo o plano da expressão com o plano do conteúdo, que remetem para a condição humana oprimida por determinadas circunstâncias naturais e sociais.
Graciliano Ramos era um crítico de seu próprio texto. Depois de concluir a obra, submetia-a a um processo de revisão que perdurava por anos. Antes de morrer, acometido pelo câncer, entregou a seu filho a responsabilidade de cuidar das publicações póstumas, revisar com cuidado algumas que não havia finalizado e rasgar todas as suas tentativas de poesia.
Vidas Secas é um ótimo romance para se apresentar aos jovens e adultos que se iniciam na literatura, já que de uma forma muito enxuta desenvolve temas afetos às maiores obras universais. Estruturalmente, foi classificada como um romance desmontável, já que é constituída de capítulos indenpendentes que não exigem uma sequência linear de leitura. Quanto ao enredo, trata de uma família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia, exposta a toda sorte de adversidade e opressão, que reinicia ciclos constantes em busca da sobrevivência.
Um dos capítulos mais marcantes do livro, se é que existe essa classificação, é a da cachorra Baleia, ser humanizado durante a narrativa, já que é dotada de sentimentos nobres, ao contrário do protagonista Fabiano, que é animalizado, por exemplo, quando depois de pensar em abandonar o filho, que cai cansado, deseja matá-lo. Baleia é morta por Fabiano, mantendo já ao fim de sua vida o sentimento de amor e os sonhos que a permearam ao longo da estória.
Graciliano Ramos, enfim, ao lado de Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e, por que não dizer, João Cabral de Melo Neto, é um dos nossos maiores autores, cujo domínio e técnica da arte de escrever pode ser igualado aos grandes nomes da literatura mundial.