sábado, 23 de janeiro de 2010

O inferno dos vivos, por Italo Calvino

Adoro este texto de Italo Calvino, presente no capítulo final de seu livro, As cidades invisíveis.

"L'inferno dei viventi non è qualcosa che sarà; se ce n'è uno, è quello che è già qui, l' inferno che abitiamo tutti i giorni, che formiamo stando insieme. Due modi ci sono per non soffrirne. Il primo riesce facile a molti: accettare l'inferno e diventarne parte fino al punto di non vederlo più. Il secondo è rischioso ed esige attenzione e apprendimento continui: cercare e saper riconoscere chi e cosa, in mezzo all'inferno, non è inferno, e farlo durare, e dargli spazio."
(Italo Calvino, Le città invisibili, 1972)

"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: procurar e reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço"

Política brasileira: uma piada de muito mau gosto!

Não queria começar o ano sendo chato, mas em época de eleição como não sê-lo? Somente me omitindo, não quero fazê-lo. Há muito desacreditei na política, melhor, nos nossos políticos. Queria que esse senso comum que agora escrevo realmente representasse uma mudança de atitude, de mundo, para o nosso próprio bem. Não sou fã do Milton Neves, mas ele disse uma grande verdade: “Precisou morrer para a conhecermos”, referia-se a Zilda Arns. E o Bambam, do Big Brother, quem não conhece? Aí me socorro de Drummond, mas antes, as enchentes... estão morrendo PESSOAS, e parece que é maldade da natureza, e não fruto de uma política mesquinha, corrupta e ordinária que existe nesse país. Ah, mas o povo tem sua parcela de culpa, joga lixo nas ruas... esse mesmo povo que paga IPTU, IPVA, IR, Ietc... e que já não aguenta mais. Cadê a educação para esse povo, cadê as campanhas educativas..?!! existem? Ah, não há verbas, mas dinheiro para propaganda política, tem de monte. Não aguento mais ver comerciais de plano de expansão. Quem se serve do transporte público, sabe que isso é balela, piada de mal gosto. Onde vemos aquelas pessoas felizes no metrô, nos ônibus, nos trens da CPTM?? Nem um terço dos piscinões prometidos, e necessários, foram construídos pelo governo. Nesse ritmo, decorreriam dez anos, sem mais lixo jogado no Tietê, para solucionar o problema. O fundo do rio está cheio de lixo, que impede a absorção das águas da chuva sem que ele transborde. As verbas para os projetos contra enchentes foram reduzidas para 2010, mas para as propagandas políticas, não foi perdido nem um centavo. Ah! Voltemos ao Drummond, muito menos famoso do que a Jose, a Surfistinha, a Popozuda, o Bambam, Geisa... “Reconheço alguns defeitos que aponta no meu espírito. Não sou suficientemente brasileiro. Mas, às vezes, me pergunto se vale a pena sê-lo (...) Acho o Brasil infecto. Perdoe o desabafo, que a você, inteligência clara, não causará escândalo. O Brasil não tem atmosfera mental; não tem literatura, não tem arte; tem apenas uns políticos muito vagabundos e razoavelmente imbecis ou velhacos. Entretanto, como não sou melhor nem pior que meus semelhantes, eu me interesso pelo Brasil” (Correspondências completas entre Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade, pp. 56 e 57). Imagine se ele tivesse visto o dinheiro nas meias, nas cuecas, Surfistinha virando filme, o descaso geral. E recentemente o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Antonio Carlos Rodrigues (PR), defendendo o aumento de salário do Prefeito (para R$ 23.000,00) e seus auxiliares (para perto disso), perguntou: “Quem consegue viver com um salário de R$ 5.000,00, se eu ganhasse isso, não teria nem formado meus filhos”. Será que formou ou comprou a formação? Esse tipo de político desconhece o valor dessa palavra. Essas pessoas fazem o país infecto. Quem ler esse desabafo, pense bem. Não vamos deixar essas pessoas fazerem o que querem, tomemos uma atitude! Nada de Serra, de Kassab, de raio que o parta. A minoria está interessada nos problemas do país e do povo, cabe a nós identificá-la e divulgá-la. Chega de Big Brother, de Fazenda, de Solitários. Até quando vamos ficar vivendo na marginalidade do mundo? Essas cenas ficam registradas em nossa memória e criam um impacto altamente destrutivo no nosso cérebro. Vamos nos prover de atitudes saudáveis, de poesia, de cidadania. Não há como apagar registros do passado, mas devemos reeditá-los. Nisso Hollywood acertou. O filme Avatar é um chute, muito bem dado, no nosso saco.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Ecos da Alma (Lançamento)


No próximo dia 20 de fevereiro, às 15:00 horas, será lançada na biblioteca Alceu Amoroso Lima, em Pinheiros, São Paulo, a antologia de poemas, Ecos da Alma, organizada pela Prof. Doutora de Teoria Literária e Comparada da USP, Guaraciaba Micheletti.

Participo do livro com dois poemas, Nossas palavras e Vozes da poesia, ambos feitos em momentos muito especiais da minha vida, frutos de sentimentos muito fortes, o primeiro no Brasil e o segundo enquanto estive em Évora, Portugal, e em Roma, na Itália, e me encantei com a presença constante (não física) dos escritores e poetas portugueses e mundiais.

No dia do lançamento, a editora promove descontos muito especiais, grande oportunidade para adquirir a obra, além de se respirar um ambiente cheio de cultura, estórias, poesia.

Com esse projeto, inicio o ano de bem com a vida (literatura), e comigo mesmo, procurando aperfeicoar-me naquilo a que venho me propondo, sempre disposto a aprender e corrigir minhas imperfeições, não com o intuito de eliminar os erros, mas de tornar-me cada vez mais ser humano.

Florbela Espanca, referência em um dos meus poemas

Sinopse do livro: Quando buscamos entender o ser humano, deparamo-nos com o desconhecido. Então nutrimos sentimentos intrigantes que nos corroem intimamente a ponto de ouvirmos sons até então despercebidos e que nos fazem enxergar a verdadeira essência da vida. Assim, as palavras ao outro se tornam mais singelas e as páginas ganham traços sutis, como os feitos pelos poetas deste livro. Pare um minuto e ouça os ecos da alma...

À VENDA NA LIVRARIA CULTURA (inclusive pela internet).

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Penha de França


Talvez o bairro da cidade que melhor figure um tempo de infância, portanto, um tempo para o qual estou sempre recorrendo em minhas lembranças, seja a Penha. Importante bairro tradicional e histórico, por meio dele, aprendi a me identificar com a zona leste de São Paulo, multifacetada, como toda a metrópole. Rua Carlos Meira, local em que passei saudosos momentos, bons e ruins, e que hoje posso ver até com alguma graça, distante do impacto físico ou psicológico que o tempo tratou de curar.
É certo que o mundo se transformou por demais na última década; inevitável passarmos pelos mesmos lugares e perdermos a imediata identificação. Ruas estão diferentes, por vezes, sérias demais, solitárias, tristes. Já não reconhecem os rostos que nelas passam, nem mesmo os que nelas residem, afinal, eles também mudaram, como as ruas. Por onde andam a Andréa, a Michele, o Alan, o Érick? Não andam mais pela Carlos Meira. Não existe a locadora, que fechou mesmo antes da pirataria. O veterinário, seu Colombo, a lanchonete do Flávio, a cabelereira, dona Cristina. Os buracos das calçadas não são os mesmos! Não foram naquelas recentes crateras em que eu e meu primo caíamos quando nos arriscávamos sobre uma carrinho de rolemã pela acintuosa ladeira que marca a rua de uma ponta a outra, da Mário de Castro até a Avenida Penha de França.
Ir a pé para o Colégio São Vicente, andar pelas ruas e vielas do bairro, comprar guloseimas nas Lojas Brasileiras, ir à quermese no Largo do Rosário, entrar no shopping inaugurado há menos de uma semana, encontrar amigos no Grupo Sérgio, aliás, decidir entre os três que havia no bairro, cruzar o bairro por completo em poucas horas do dia, caminhando mesmo. Massahara? Ainda não tinha idade suficiente para frequentar a extinta discoteca. Mais de vinte anos separam esses dias do tempo presente, outros vinte deveriam ser vividos distantes da Carlos Meira, para se esquecer marcas tão profundas que foram deixadas em minhas memórias.
Texto elaborado durante as atividades do Projeto Escrevivendo, no Museu da Língua Portuguesa (18 a 22 de janeiro de 2009).