sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Florbela Espanca - a poetisa do Alentejo

Tendo regressado da região em que viveu Florbela Espanca, da Vila onde nasceu e de Évora, em cuja praça descansa um busto da grande poetisa portuguesa, não poderia deixar de postá-la em meu blog. Florbela foi grande, em meio a sua tristeza existencial, suas dores de existir, seus ataques neuróticos, os abortos que sofreu, a morte do irmão em um acidente aéreo sobre o Tejo, e que nunca pôde superar, os casamentos desfeitos, razão de vários preconceitos que viria a sofrer, a paternidade não assumida. Tudo isso a conduzia para o suicídio, o qual concretizou em 1930, no dia 07 de dezembro, data de seu aniversário, aos 36 anos de idade. Grande parte da sociedade foi impiedosa com a poetisa "por muitos desses aspectos negativos (...) Florbela não sentiu carinho; por isso, ela se afastou da sociedade; por isso, cultivou na sua alma de artista, as flores perecíveis da paixão, da dor, do sofrimento, da angústia e da amargura" (Antonio Capao, p. VIII).

Crepúsculo

Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Poisam nos meus, suaves e cansadas,
Como em dois lírios roxos e dolentes...

E os lírios fecham.. Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes...

O Silêncio abre as mãos... entorna rosas...
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando...

E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha
Um coração ardente, palpitando...


Princesa Desalento

Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida e sombria,
Como soluços trágicos do vento!

É frágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso de uma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...

Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!

O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...

Florbela não se filiou a períodos literários, mas fez dos sonetos a sua forma de expressão. Para quem quiser saber mais sobre Florbela Espanca, esse link é muito interessante.

ESPANCA, Florbela. Autores portugueses de ontem 9: Sonetos. Aveiro: Livraria Estante Editora, 1992.

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