sábado, 13 de novembro de 2010

A música em nossas vidas

Schopenhauer considera a música a arte suprema, linguagem universal que traduz as vontades do homem. O caso de Nietzsche e Wagner é muito conhecido, o que nos faz pensar essa relação da música com o nosso mundo, interior e exterior. Durante muito tempo uma música marcou muito em minha vida, "Todo azul do mar", e realmente era como se o mar invadisse minha alma, tomando por completo meu corpo, meus pensamentos e minhas memórias. Hoje, era para eu não suportar ouvi-la, mas posso escutá-la, ainda bem, sem nenhuma descarga química em meu organismo. Quando a escutei ao vivo, pela voz de Flávio Venturini, há alguns anos, não tinha noção da força dessas águas, embora já estivesse velejando por elas. O barco desviou de sua rota, o mar, por vezes calmo, virou tormenta, suas águas saíram de mim, deixando apenas um tênue gosto de sal. A maré está baixa. Naquela mesma semana, daqueles anos idos, contribuí com algumas gotas lacrimais para as águas daquele oceano. Hoje elas se secaram junto dele.

Algumas vezes escrevi sobre as músicas de Renato Russo, realmente foi um grande poeta, estava à frente de seu tempo. Não que eu fosse fã, ou que seja, mas são inegáveis suas impressões digitais marcadas em nosso mundo. Dos seus textos que aqui gostaria de registrar, vem à minha cabeça a música Giz. Representa um descontrole controlado, "quando quero". O personagem se permite transitar entre inseguranças, já que não é dono de nenhuma certeza (acho, queria, mas) e isso não o machuca, e o seu gostar, ponto alto da música, é verdadeiro, porque não há outras pessoas, o outro alguém é conhecido: "acho que estou gostando de alguém, e é de ti que não me esquecerei", daí ser comedido, já que não se apaixona em cada esquina... move-se por uma serenidade também representada no ritmo da música. E o que o faz infeliz? O mesmo que o faz forte, e é só uma parte, porque a vida continua, não se poderia permitir que fosse o todo. E a simplicidade invade a alma do escritor, simples como o título "Giz", simples como a atitude de desenhar na calçada, simples como o instrumento utilizado, um tijolo de construção. Simples, assim todas as coisas deveriam ser.

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém
Aparecer ou quando quero
Quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És, parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei
Tudo bem, tudo bem...
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Tudo bem, tudo bem...
Acho que estou gostando de alguém
Tudo bem, tudo bem...

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