
Vidas Secas, publicado em 1938, constitui, juntamente com São Bernardo e Angústia, a trilogia da obra-prima de Graciliano Ramos. O cenário de suas obras faz parte da vida do próprio autor, contudo, com uma enorme capacidade literária, que o faz um dos grandes escritores do mundo, Graciliano universalizou os ambientes, os temas e os personagens. Em Vidas Secas, a escrita contribui para o sentido do texto, unindo o plano da expressão com o plano do conteúdo, que remetem para a condição humana oprimida por determinadas circunstâncias naturais e sociais.
Graciliano Ramos era um crítico de seu próprio texto. Depois de concluir a obra, submetia-a a um processo de revisão que perdurava por anos. Antes de morrer, acometido pelo câncer, entregou a seu filho a responsabilidade de cuidar das publicações póstumas, revisar com cuidado algumas que não havia finalizado e rasgar todas as suas tentativas de poesia.
Vidas Secas é um ótimo romance para se apresentar aos jovens e adultos que se iniciam na literatura, já que de uma forma muito enxuta desenvolve temas afetos às maiores obras universais. Estruturalmente, foi classificada como um romance desmontável, já que é constituída de capítulos indenpendentes que não exigem uma sequência linear de leitura. Quanto ao enredo, trata de uma família de retirantes, Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo, o menino mais velho e a cachorra Baleia, exposta a toda sorte de adversidade e opressão, que reinicia ciclos constantes em busca da sobrevivência.
Um dos capítulos mais marcantes do livro, se é que existe essa classificação, é a da cachorra Baleia, ser humanizado durante a narrativa, já que é dotada de sentimentos nobres, ao contrário do protagonista Fabiano, que é animalizado, por exemplo, quando depois de pensar em abandonar o filho, que cai cansado, deseja matá-lo. Baleia é morta por Fabiano, mantendo já ao fim de sua vida o sentimento de amor e os sonhos que a permearam ao longo da estória.
Graciliano Ramos, enfim, ao lado de Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e, por que não dizer, João Cabral de Melo Neto, é um dos nossos maiores autores, cujo domínio e técnica da arte de escrever pode ser igualado aos grandes nomes da literatura mundial.
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