segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mande notícias do mundo de lá...

Walter Benjamim, em seu texto "O narrador", coloca-nos a frente de duas formas de experiências próprias dos narradores. Uma delas, é a do camponês, que nunca saiu de sua terra, assim, alimenta-se de histórias provindas de seu conhecimento sobre a tradição. A outra é aquela do viajante, aquele que "vem de longe". Um dia, saindo de Irará, na Bahia, meu pai deixou de ser camponês e foi se aventurar como viajante, traçando um destino de milhares de brasileiros. Em cinco décadas construiu sua vida e a de seus filhos. Não escolheu ser viajante, mas o foi. Agora, por escolha própria, retorna para o mundo do camponês, para viver e lutar em uma realidade que talvez esteja muito diferente daquele ilustrada para nós, durante as maravilhosas estórias dos lugares e das pessoas que reencontrará. Partiu para sua cidade e deixou os cômodos enormes, um silêncio incômodo, uma rotina ainda a se descobrir.
Dizem, alguns, que o sentimento da saudade, a tristeza causada por ela, é fruto do nosso egoísmo, já que é tão somente a impossibilidade de termos aquilo que a pessoa poderia nos oferecer. Pode ser que seja verdade, ou não. Quando penso nisso, cheio de saudade, sou incapaz de pensar sobre essa afirmação, confirmá-la ou negá-la, pois não tenho uma distância segura do próprio fato para poder escrever sobre ele.
Com a merecida homenagem, sabendo que "a vida é pra valer", como cantou Vinícius, faço deste o último texto do ano, dedicando-o juntamente com a música abaixo, a uma pessoa que sempre será, ainda que a dois mil quilômetros de distância, um exemplo de vida para mim, assim como também continua sendo a minha mãe. Que Deus, quem você insistentemente buscou me apresentar, ilumine sua estrada e que o ajude a vencer as lutas diárias, aliviando do seu peito o mesmo sentimento de saudade que deve estar levando junto a ti, e que possa usufruir dos momentos de felicidade e paz. Em poucas horas da partida, já foi capaz de me fazer recordar profundamente desse sentimento tão estranho e desorientador, que é a saudade, "nossa alma dizendo para onde ela quer voltar", como disse Rubem Alves.

Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo

Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas, num grito, me ensinando tanto do mundo...
E esses passos lentos, de agora, caminhando sempre comigo,
Já correram tanto na vida,
Meu querido, meu velho, meu amigo
Sua vida cheia de histórias e essas rugas marcadas pelo tempo,
Lembranças de antigas vitórias ou lágrimas choradas, ao vento...
Sua voz macia me acalma e me diz muito mais do que eu digo
Me calando fundo na alma
Meu querido, meu velho, meu amigo
Seu passado vive presente nas experiências
Contidas nesse coração, consciente da beleza das coisas da vida.
Seu sorriso franco me anima, seu conselho certo me ensina,
Beijo suas mãos e lhe digo
Meu querido, meu velho, meu amigo
Eu já lhe falei de tudo,
Mas tudo isso é pouco
Diante do que sinto...
Olhando seus cabelos, tão bonitos,
Beijo suas mãos e digo
Meu querido, meu velho, meu amigo.

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