terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Penha de França


Talvez o bairro da cidade que melhor figure um tempo de infância, portanto, um tempo para o qual estou sempre recorrendo em minhas lembranças, seja a Penha. Importante bairro tradicional e histórico, por meio dele, aprendi a me identificar com a zona leste de São Paulo, multifacetada, como toda a metrópole. Rua Carlos Meira, local em que passei saudosos momentos, bons e ruins, e que hoje posso ver até com alguma graça, distante do impacto físico ou psicológico que o tempo tratou de curar.
É certo que o mundo se transformou por demais na última década; inevitável passarmos pelos mesmos lugares e perdermos a imediata identificação. Ruas estão diferentes, por vezes, sérias demais, solitárias, tristes. Já não reconhecem os rostos que nelas passam, nem mesmo os que nelas residem, afinal, eles também mudaram, como as ruas. Por onde andam a Andréa, a Michele, o Alan, o Érick? Não andam mais pela Carlos Meira. Não existe a locadora, que fechou mesmo antes da pirataria. O veterinário, seu Colombo, a lanchonete do Flávio, a cabelereira, dona Cristina. Os buracos das calçadas não são os mesmos! Não foram naquelas recentes crateras em que eu e meu primo caíamos quando nos arriscávamos sobre uma carrinho de rolemã pela acintuosa ladeira que marca a rua de uma ponta a outra, da Mário de Castro até a Avenida Penha de França.
Ir a pé para o Colégio São Vicente, andar pelas ruas e vielas do bairro, comprar guloseimas nas Lojas Brasileiras, ir à quermese no Largo do Rosário, entrar no shopping inaugurado há menos de uma semana, encontrar amigos no Grupo Sérgio, aliás, decidir entre os três que havia no bairro, cruzar o bairro por completo em poucas horas do dia, caminhando mesmo. Massahara? Ainda não tinha idade suficiente para frequentar a extinta discoteca. Mais de vinte anos separam esses dias do tempo presente, outros vinte deveriam ser vividos distantes da Carlos Meira, para se esquecer marcas tão profundas que foram deixadas em minhas memórias.
Texto elaborado durante as atividades do Projeto Escrevivendo, no Museu da Língua Portuguesa (18 a 22 de janeiro de 2009).

5 comentários:

  1. Fiquei melancólica depois de ler o texto, mas faz bem recordar...
    Seu texto é bem suave e gostoso de ler.
    A gente meio que mergulha nele...
    Parabéns!

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  2. Eduardo,

    Que legal conhecer mais um pouco de São Paulo através deste texto cheio de emoção!

    Parabéns!

    Trícia

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  3. Nossa Eduardo, que texto nostálgico o seu, ultimamente também ando assim, fico pensando no passado, onde estive, nas pessoas que passaram por minha vida, com saudades de algumas coisas e achando graças das outras rs ... Abraços e parabéns ....

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  4. Peguei-me emocionada com a leitura sobre o bairro da Penha e o texto sobre o amor.È formidável a maneira com que escreve, e foi muito mais além... no meio de seus pensamentos e afirmações, pude sentir um pouco a pessoa que fui um dia e a forma com que amei a vida. A muito não sentia isso. Obrigada por você escrever.De sua aluna que espera em breve, ser sua amiga!
    Cristiane

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  5. wow! A Penha de Franca! Moradora do Cangaíba eu nao saía da Penha. Massahara, Penharama,a Peti,os skatistas do mercadao(eu era um deles! Realmente o bairro marcou minha vida também! Minha infancia, minha adolescencia!
    Parabéns pelo texto. Emocionante!

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