
Ontem, segunda-feira (10), assisti a três excelentes programas na TV Cultura, Roda Viva, que entrevistou o antropólogo Roberto da Mata, Cultura Documentário, sobre a vida de Charles Bukowski e A Invenção do Contemporâneo. Qual terá sido a audiência desses programas? Qual será a audiência de Entrelinhas, Vitrine, Provocações, este último, para mim, o melhor programa da televisão brasileira. Será que atingiram o Ibope de Superpop e o desfile de biquínis? Nosso tão valorizado real não é nada perto da força cambial de uma bunda. Vai começar mais um Big Brother e novamente veremos um bom jornalista se bestializar em frente às cameras. As pessoas se assustam, reclamam, matam seus filhos com as armas que eles próprios criaram, como um EUA e Afeganistão. Karl Marx dizia que o capitalismo encerra em si os germes de sua própria destruição. Estava absolutamente correto, mas nos escondeu que essa destruição seria lenta e extremamente dolorosa.
José Saramago criticava a religião e a política, dizendo que vivemos em uma falsa democracia, uma democracia mantida e voltada para poucos. Basta olhar as escolas, os hospitais, o lazer, a moradia, a condição de vida de 98 % da população. Não dá mais para acreditarmos e nos conduzirmos como se vivêssemos no Planeta Xuxa. Ontem assisti ao documetário sobre Bukowski, o último escritor norteamericano maldito, que tematizou sua vida e sua obra com prostitutas, álcool, sexo, pessoas miseráveis, experiências escatológicas (excrementos). Mesmo reconhecido, famoso e consagrado, o alemão que viveu desde cedo no submundo de Los Angeles, não exigiu para si o estrelismo, a fama, os holofotes. Conquistou apenas o direito de viver como acreditava, entre os mesmos vagabundos. Tendo escrito por vários anos por U$ 100,00 ao mês (R$ 169,00), com apenas uma refeição diária (uma barra de cereal antes de dormir), construiu uma obra respeitada por muitos acadêmicos, vertida para o cinema, e claro, pelas pessoas comuns e incomuns, como ele, publicando livros como Pulp, Hollywood, Notas de um velho safado, Ereções, Ejaculações e Exibicionismos e Crônica de um amor louco, além de várias poesias inéditas no Brasil. Bukowski nos mostrou um pouco da realidade de um mundo que lutamos para não enxergar, mas que é o nosso mundo.
Há muita hipocrisia na sociedade: perdemos a saúde, não mais com o álcool ou com as noites em claro, mas com a Claro, a televisão, com os móveis não entregues, quando entregues, não montados, com as enchentes, com os ônibus lotados, com o trânsito que rouba 20 % do nosso dia. Perdemos a saúde com o cartão de crédito, com os bancos, as músicas que entram pelos nossos ouvidos, sem que a queiramos ouvi-la, com a obrigação de votar para novamente sermos enganados, com a suspensão quebrada pelas ruas esburacadas, do carro que achamos que é nosso, mas que nos três primeiros meses do ano temos que pagar a parcela "do" Estado e a taxa "da" Prefeitura (aquela mesma que foi usada na conta do motel). Nosso suor não é nosso, pois grande parte dele pinga nos cofres públicos (e deles para os privados). Achamos que somos superiores aos animais e aos outros seres humanos, e isso nos traz felicidade. Vivemos em um país de uma legislação hipócrita, em um Mundo feudal civilizado e com a certeza de que evolução não é sinônimo de melhora.
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