quarta-feira, 21 de julho de 2010

O Estrangeiro

Eram ruas escuras, desconhecidas, eu caminhava em ritmo frenético, afastando-me do meu mundo real. Sudorese. Era assustador, estranho, desconfortável. Não conhecia aquele lugar, nunca havia estado ali. As intersecções pareciam não levar a lugar nenhum... pensei em voltar. Dei-me conta do impossível: voltar para onde, guiar-se por qual sentido, chegar em qual lugar? Prossegui.

Resolvi não parar mais. A cada novo minuto, alguns novos metros percorridos. Havia vozes, mas não se podia entender o que elas diziam. Eram muitas, não completamente desconhecidas, mas que pareciam perdidas na memória. Não havia rostos, uma única imagem me ocupara a mente. Então, meus ouvidos cederam espaço para a primazia dos meus olhos, já que muitas cores surgiram a minha frente, rompendo com a escuridão. Observei-as extático.

Estradas, mares, aeroportos... Eu estava em outra cidade, talvez em outro país, e quanto mais distante eu estava de você, mais eu me aproximava de mim. Podia até mesmo me sentir. Então descobri que esse era o segredo: sentir-me sem interferência, distanciar-me para aproximar-me. Desfiz o paradoxo. Comecei a correr, atravessei bairros inteiros, uma música começou a tocar, o tempo parou: uma voz feminina enebriava todos os meus sentidos, que já não eram mais um, dois, cinco, eram todos, múltiplos sentidos, vontades, desejos. Estava pleno de mim, o tempo deixou de correr, formavam-se várias imagens que eram apenas uma, distante, sublime, imortal.

Não olhei mais para trás, nunca mais desejei regressar. Escolhi algumas pessoas e expliquei como chegar... e como voltar. Muitas voltaram, muitas não vieram, muitas aqui estão. Os sons já não são estranhos, as esquinas sempre abrem caminhos, os mesmos por onde queremos andar. Tudo é tranquilo. Posso até lembrar: por quatro ou cinco vezes já estive nesse mesmo lugar, mas não resisti à tentação de voltar, e voltei, de fugir de mim mesmo, e fugi, de ser um estrangeiro desse mundo em que agora estou, e onde vou ficar.

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