Crepúsculo
Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes
Borboletas de sol, de asas magoadas,
Poisam nos meus, suaves e cansadas,
Como em dois lírios roxos e dolentes...
E os lírios fecham.. Meu amor não sentes?
Minha boca tem rosas desmaiadas,
E as minhas pobres mãos são maceradas
Como vagas saudades de doentes...
O Silêncio abre as mãos... entorna rosas...
Andam no ar carícias vaporosas
Como pálidas sedas, arrastando...
E a tua boca rubra ao pé da minha
É na suavidade da tardinha
Um coração ardente, palpitando...
Princesa Desalento
Minh'alma é a Princesa Desalento,
Como um Poeta lhe chamou, um dia.
É magoada, e pálida e sombria,
Como soluços trágicos do vento!
É frágil como o sonho dum momento;
Soturna como preces de agonia,
Vive do riso de uma boca fria:
Minh'alma é a Princesa Desalento...
Altas horas da noite ela vagueia...
E ao luar suavíssimo, que anseia,
Põe-se a falar de tanta coisa morta!
O luar ouve a minh'alma, ajoelhado,
E vai traçar, fantástico e gelado,
A sombra duma cruz à tua porta...
Florbela não se filiou a períodos literários, mas fez dos sonetos a sua forma de expressão. Para quem quiser saber mais sobre Florbela Espanca, esse link é muito interessante.
ESPANCA, Florbela. Autores portugueses de ontem 9: Sonetos. Aveiro: Livraria Estante Editora, 1992.
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