segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Eros - O amor em Platão


O amor é campo controverso de entendimento, tanto no senso comum, como também na filosofia. Para os gregos, o amor é o elemento que move as coisas e as mantém unidas, em harmonia. Dele, assim tratou Parmênides, Hesíodo e Aristóteles. Neste sentido, o amor é essencial para a cidade, já que concorre para o bem e para o justo.

Platão, como revela Nicola Abbagnano em seu dicionário de filosofia, foi o primeiro a dar tratamento filosófico ao amor (2007, 39). Como problema filosófico, o amor é condicionante ao desejo de se ter o que não se possui ou de manter aquilo que se possui, ou seja, é a força movente do ser humano. Essa busca é movida pela beleza, na coisa amada, pelo desejo do bem, sobretudo, pela busca da sabedoria, que é a forma mais sublime de amar. Por fim, é a própria necessidade do homem de se imortalizar, aí representada na procriação, que remete novamente na busca do belo, para que se resultem proles harmoniosas, assim como se busca uma cidade e um governo harmoniosos, e, portanto, belos.

Nesse amor pelo objeto que está ausente é que se cristalizou a ideia do amor platônico, no desejo da forma bela, naquilo que se pode ser apreendido pelo campo do inteligível, isto é, pela inteligência, em suma, pela busca do conhecimento, o que diverge do senso comum de que o amor platônico seria o amor não correspondido que o amante carregaria por toda a sua existência, sem nenhuma evolução do espírito. Assim, em O Banquete, o Amor não é apresentado nem como belo, nem como feio, nem como humano, nem como mortal, mas como um intermediário que estabelece o contato entre as necessidades humanas, suplicadas aos deuses, e a ação divina, entregue aos mortais, sendo fundamental para a constituição da amizade, da justiça e da cidade, sobretudo, força motora que conduz os seres humanos em direção à felicidade e à nobreza da alma.

Assim, o Amor se apresenta na obra de Platão como o princípio estrutural da comunidade política e da paidéia, ou seja, da formação do povo grego, sendo entendido à luz da razão, de acordo com a própria estrutura contida em O Banquete. No final desta obra, Sócrates aparecerá para Alcibíades como a síntese desse ideal de Amor, já que desprovido das belezas do corpo, tem em sua alma a fonte mais profícua para o desenvolvimento do Amor que busca o conhecimento e a sabedoria, ou seja, representa o ideal do que é ser um filósofo.