sexta-feira, 14 de maio de 2010

"La Strega e il Papa", de Dario Fo

Os Parlapatões estreiam a peça “A Bruxa e o Papa”, da obra homônima de Dario Fo, “La Strega e il Papa”, escrita em 1989. Dario Fo (1926), ator, comediante e teatrólogo italiano, de família antifacista, aborda temas polêmicos em suas obras, por meio da comédia, causando ao mesmo tempo riso e mal estar. Nesta peça, por exemplo, o texto de Fo está direcionado para a burocracia da Igreja, não deixando de tocar em pontos delicados, como o aborto, o celibato e as drogas.
Na montagem, o grupo de teatro paulista intensificou as críticas com intervenções do cenário atual, por exemplo, quando ironiza os padres cantores brasileiros. As piadas são muito bem colocadas durante a apresentação e até mesmo quando os diálogos em cena parecem exaustivos e correm o risco de se perderem, o texto ganha novo fôlego, e as gargalhadas e aplausos passam a interagir com os atores no palco.
Com ótimas interpretações, sobretudo do Papa, do médico e de um alcoólatra, a peça acaba por prender o telespectador do começo ao fim e entre alguns bons momentos de risos, determinadas situações parecem constranger a plateia, por exemplo, quando há a citação mais do que direta de uma expressão religiosa, ou de classes sociais desfavorecidas, riscos que, segundo os atores, correspondem às comédias, mas que o público deve entender como uma forma de proposição para que se pense sobre pontos importantes da nossa sociedade, e não como um desmerecimento a este ou aquele seguimento, o que concordo plenamente. Gil Vicente já nos alertava que os males não estão nas instituições, mas nas pessoas que delas se servem.
Dario Fo enfrentou sérias dificuldades sociais, econômicas e ideológicas, inclusive, escondendo-se quando foi recrutado à guerra na época em que Mussolini tentava voltar ao poder na Itália. Nada disso foi suficiente para abalar a excentricidade do Prêmio Nobel de Literatura (1997). Mesmo que muitas de suas apresentações sejam vistas como blafêmias, Dario Fo é um ícone da arte no mundo, um homem em que a verve artística supera qualquer limite e padronização.
Serviço: Teatro Arthur Azevedo. 480 lugares. Av. Paes de Barros, 955, Mooca, Zona Leste. Tel. 2605-8007. Estacionamento próprio. De 7/5 a 13/6. 6ª e sáb., 21h. Dom., 19h. R$ 10.

"Era una utopía, preciosa como todas las utopías."

Indicação de um blog de extremo bom gosto, que poeticamente nos fala de literatura:
http://paisajesdeunarealidadutopica.blogspot.com/ (em espanhol)